domingo, 4 de maio de 2008

A batalha das revistas musicais

Como diria Arnaldo Antunes, música é feita para ouvir no trabalho, para jogar baralho e para arrastar corrente, entre outras coisas, porém, parece que música não é lugar para estar na revista, pelo menos essa é a constatação que tive ao entrevistar algumas pessoas ligadas a diferentes revistas de música no Brasil.

Enquanto alguns ainda mantêm certo otimismo com relação às revistas brasileiras de música, outros são extremamente descrentes da continuidade dessas publicações. “A internet ocupou todo o espaço, o público que ia a banca para comprar revistas de música, encontra essas e outras informações na internet”, essa constatação cética com relação às publicações musicais foi dada por Maurício Kubrusly, atual repórter do Fantástico, da rede globo, que durante 10 anos dirigiu a revista de música Somtrês, uma das mais significativas revistas brasileira de música.


A última edição da revista foi publicada em 1989 – época em que a internet não amedrontava a continuidade das revistas -, em uma edição comemorativa de 10 anos. Kubrusly afirma que o fim da revista não teve nenhuma relação com a vendagem da revista. “Eu estava trabalhando em 4 lugares, na Editora 3, TV Cultura, TV Globo e recebi um convite para fazer rádio....eu tinha muito tesão em fazer rádio e quando abriu a possibilidade de fazer, eu avisei a direção da Editora 3 que eu iria sair por que eu queria fazer rádio e rádio tomava muito tempo. O dono da editora disse que se eu saísse ele fecharia a revista, eu não achei legal isso, ele colocar essa responsabilidade na minha mão, a responsabilidade pelas pessoas perderem o emprego, mas eu decidi sair, pois a vida é minha e eu só tenho uma”.

Maurício afirma que nos últimos anos a Somtrês não tinha mais o mesmo impacto devido às mudanças no mercado publicitário. “Eu não sei se ela iria continuar, se eu tivesse continuado lá”.

Além de Kubrusly, outras pessoas ligadas a revistas de música também são pessimistas quanto ao futuro dessas publicações. É o caso de Dado Abreu, editor da revista da MTV há 1 ano e meio. “Revista hoje vende muito pouco, com a mídia eletrônica a revista ficou muito enfraquecida, então acaba vendendo as mesmas revistas de sempre, como as revistas de fofoca e a Veja, só essas revistas vendem”.

Dado acredita que não são só as revistas de música que passam por dificuldade, e sim a música. “O disco não vende mais, o show não é da mesma maneira.....vender música se tornou difícil. A revista é só mais uma mídia que poderia ser utilizada para música, mas que não consegue mais ter o seu espaço”.

Depois de 5 anos - três dele restrito aos assinantes – a revista da MTV encerrará suas atividades em dezembro. O editor diz desconhecer os motivos do fim da revista, mas afirma que não houve uma grande queda nas vendas. “Nos últimos 3 anos a gente teve uma média legal, a gente conseguiu sobreviver de uma maneira legal..... para orçamento de 2008 a direção pensou que fosse melhor acabar, mas nada que a gente tenha dado uma grande queda do ano passado para esse.

Apesar da descrença, Abreu acha que uma boa saída é trabalhar com um público específico. “Você trabalha com um número certo de leitores, não precisa pensar muito grande e falar que vai fazer uma revista para 100 mil. Ter uma tiragem pequena, um custo pequeno, um gasto pequeno, uma sobra muito pequena......trabalhar com um orçamento reduzido e fazer uma revista para um público certo.... aí você não perde nada com isso.

Além de Dado, o Editor da revista de metal Roadie Crew, Airton Diniz, diz que trabalhar com público segmentado é o motivo de sucesso de sua publicação. “O fato de ser segmentada é o que sustenta a base de leitores fiéis. Se fosse uma revista genérica que tentasse atingir todo e qualquer tipo de público, com certeza não teria muito sucesso, muito tempo de mercado”.

Diniz acredita que quanto mais segmentada, mais fácil é atender um público que tem um interesse específico e, vai além. “Revista de música é o tipo de negócio que na medida em que você tenta ser o mais abrangente possível você acaba perdendo o seu público”. Atualmente a Roadie Crew têm uma tiragem de 40 mil exemplares.

Airton conta que além de se manter fiel a linha editorial adotada desde o início da publicação, outro motivo de longevidade da revista é a participação dos anunciantes. “No caso da revista de música com circulação em banca, o custo aproximado da publicação é meio a meio. Uma parte da receita vem da venda em banca, outra parte da publicidade, é claro que isso depende da política de cada empresa, mas com certeza é indispensável você contar com a receita vindo da publicidade”. Dado, da MTV, concorda com a opinião de Diniz. “É fundamental para qualquer revista ter anunciante, se você não tem anunciante você não tem revista, não adianta.. No nosso caso, esse problema a gente nunca teve, talvez por isso a gente tenha conseguido sobreviver durante tanto tempo com uma mídia que a cada dia mais é mais fraca. A gente conseguiu sobreviver bastante tempo, talvez por carregar a marca MTV, que junto com ela traz muitos anunciantes”.

O editor da Roadie Crew acha que revistas como a BIZZ e a MTV não deram certo devido a falta de identidade com o público. “Não adianta você fazer uma revista onde você coloque uma matéria de capa com alguém da MPB e, na mesma revista você colocar uma matéria extensa sobre um astro do Rock. Eventualmente, aquele que é fã desse astro de Rock, se ele for muito fã mesmo, ele vai comprar aquela revista, mas ele sabe que muito possivelmente vai ter uma publicação específica onde ele vai encontrar essa banda que ele gosta e algumas do mesmo segmento”.

Mesmo com o fim anunciado da revista, Dado Abreu acha que possuir uma marca forte é fundamental para uma revista dar certo. “Nós somos uma revista de marca, nós temos uma marca muito forte e um público muito grande ligado a essa marca. Então, a gente tem onde mexer, tem onde buscar o leitor, onde buscar o assinante. A gente tem o caso da Rolling Stone, que vem sobrevivendo bem e têm uma marca gigantesca. Ter uma marca por trás é fundamental para você sobreviver com uma revista de música”.

Procurado pela reportagem, Ricardo Cruz, editor chefe da revista Rolling Stone, não quis se pronunciar sobre o motivo das revistas de música não darem certo no Brasil, porém, o que chamou a atenção, foi sua explicação para a recusa. “A Rolling Stone não é uma revista de música, é também de música, por isso acho que não tem motivo para eu falar sobre esse assunto”.

Incrédulo em relação ao futuro da música e, conseqüentemente ao das revistas, Dado espera ver uma saída. “Eu quero ver o dia que a indústria fonográfica vai encontrar uma saída, saída essa que eu não consigo ver... quem sabe nesse dia, as revistas de música consigam sobreviver”. Resta saber quando será esse dia.

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